DICAS e CURIOSIDADES

Tratamento de Asma


IVAN PADILLA

As primeiras crises de bronquite começaram a atacar o garoto Leonardo Haidamus, oito anos, quando a família resolveu trocar a cidade  litorânea do Guarujá pela capital paulista. De dia, ele penava para respirar e seus pulmões chiavam. À noite, tossia seco e produzia muito catarro. A mãe, Fátima, tentou de tudo, em homeopatia e alopatia, sem resultado. Até que em setembro passado, por indicação de uma amiga, ela decidiu levar o filho para uma sessão de massagem com o mestre Yukio Shida, um japonês atarracado que mal fala português. Logo no início da sessão, Fátima já estava arrependida. Sem a menor cerimônia, Shida deitou o garoto de bruços em uma cama, apoiou o joelho em suas costas e puxou com força seus braços. Depois, o fez sentar na beira do estrado e, de pé na cama, por trás do menino, deu um estirão em seu pescoço. "Nessa hora quase desmaiei. Parecia que ele estava matando uma galinha", lembra a mãe. A massagem demorou menos de três minutos. Desde então, Leonardo nunca mais apresentou nenhum sintoma da doença.

Essa técnica de massagem japonesa chama-se Yawara-Seitai e vem sendo cada vez mais utilizada no tratamento da bronquite infantil, que atinge 10% das crianças brasileiras. Na tradução, Yawara-Seitai significa algo como ajuste através da flexibilidade. É o mesmo nome de uma antiga luta marcial parecida com o judô, em que os oponentes se livravam dos golpes certeiros pela maleabilidade. O princípio é ajustar a coluna vertebral e estimular os sistemas nervosos simpático e parassimpático, subdivisões do sistema nervoso autônomo e responsáveis pelas respostas involuntárias. Isso ativa a circulação, relaxa a musculatura e descongestiona os pulmões. O tratamento apresenta melhores resultados com crianças, que têm a coluna mais flexível. "É uma limpeza geral, um estímulo aos pulmões. No final, as crianças costumam expectorar intensamente", explica Marta Shida, 51 anos, esposa e intérprete de Yukio.

Desde 1990, quando a massagem começou a ser aplicada em maior escala, Shida já tratou mais de 15 mil crianças. Budista ligado à igreja Risho Kossei-Kai do Brasil, atende gratuitamente em creches e escolas de todo o Estado de São Paulo. "Fazer o bem ao próximo faz parte dos ensinamentos de minha religião", explica ele, que no domingo 1º atendeu a mais de 600 crianças em um dos templos da igreja. Quando não está em missão de caridade, ele costuma receber seus pacientes em uma sala da academia do amigo judoca Chiaki Ishii, medalha de bronze nas Olimpíadas de Munique, em 1972. Foi graças ao judô que Shida aprendeu a usar a técnica. Adepto do esporte, ele deslocou a coluna durante uma luta no início da década de 70, quando já estava radicado no Brasil, e sentia muitas dores. Foi então procurar o fisioterapeuta e monge budista Asaji Suzuki, responsável pelo aperfeiçoamento e introdução do Yawara-Seitai no Brasil. Ficaram amigos e Shida aprendeu a técnica, atualmente dominada por um seleto grupo de 15 massagistas, todos do Estado de São Paulo. Os gêmeos Danilo e Renato da Fonseca, 12 anos, foram beneficiados pela técnica oriental. Depois de duas sessões, pararam de tossir e passaram a respirar melhor. "Eles sempre foram muito sensíveis. Tratavam-se com homeopatia, mas nunca deu resultado. Sou muito cética e fiquei surpresa com a eficácia de uma simples massagem", afirma a mãe dos garotos, Lucimeire.

A bronquite, ou inflamação dos brônquios, dificulta a passagem de ar ao criar edemas e aumentar as secreções. Pode ter causas alérgicas, infecciosas ou emocionais. Apesar dos bons resultados que produz, a medicina tradicional não considera a massagem como uma cura. "Quando a pessoa está angustiada ou estressada, qualquer atividade relaxante ajuda. Mas não existe nada que comprove sua eficácia quando a causa é uma alergia ou uma infecção", ressalta o clínico geral Ricardo Botticini Peres, do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

Imagem de Yukio Shida: Aplicando o método em Renato: Fim da tosse em apenas duas sessões.
Matéria publicada na ISTOÉ (11 de Março 1997)